Na quietude dos dias em que os minutos se tornam horas contrastando com o tempo em que as horas se traduziam a minutos, chega-me disfarçadamente o som das pingas em tom crescente despertando a minha curiosidade de "felina". As pingas se transformam numa chuva tranquila que ao entrar em contacto com o solo, este a engole rapidamente sôfrego que está do aconchego macio e húmido que a chuva lhe proporciona.
As ervinhas, pequenos e frágeis fios verdes que despontam com uma ou duas folhinhas, cada uma feliz lutando por marcar o seu lugar no universo da sua natureza, não supondo sequer que daí a dias uma cruel ferramenta viria revolver a terra, expondo as suas minúsculas e indefesas raízes, qual guerra que tudo vira do avesso.
Num período de acalmia, algumas raízes se agarram de novo à terra, vingam as mais fortes e vigorosas, até chegar outra ferramenta mais poderosa que as volta a derrubar, ainda assim, as mais fortes, resilientes, lutam na esperança de que ninguém se lembre de algum produto químico poderoso e perigoso que embora proibido seja utilizado para exterminar as ervas por muitos consideradas como daninhas!
Há cerca de um mês num país chamado Ucrânia, a vida dos cidadãos, das famílias, das crianças, era em tudo igual à dos outros países, cidades, vilas e aldeias. Era toda uma sociedade, em que cada um desempenhando o papel que lhe competia geria e fazia girar uma máquina que calibra e dá equilíbrio a uma esfera que se chama vida. As noticias viviam em prol de uma pandemia com o nome de covid-19.
Ao vigésimo quarto dia do mês de Fevereiro do ano 2022 pelas 3.h30, os soldados soviéticos guiados pela mão de um presidente lunático, um assassino, dão inicio a uma invasão sobre a Ucrânia, com intenção de tomar Kiev em poucos dias porém, não estavam a contar com uma resistência poderosa como se tem verificado pela parte do exército e povo ucraniano.
Assim, de um dia para o outro o povo ucraniano se vê a correr para abrigos subterrâneos quando se ouvem as sirenes, enquanto as suas casas, os seus hospitais, maternidades, escolas, serviços públicos e infra-estruturas essenciais são bombardeados sem dó nem piedade, para além de uma infinidade de alvos militares. Com o passar dos dias e um conflito cada vez mais intenso, são milhões de pessoas que fogem da guerra de comboio, de carro, a pé com apenas uma mochila, crianças e animais ao colo para países vizinhos e outros um pouco mais distantes como Portugal.
As noticias e imagens que nos chegam todos os dias são de dor, de sofrimento, de perda de quem ficou sem nada, de quem ficou com a família dispersa, destruída, sem casa, sem rumo. Assistimos de coração partido à destruição de toda uma vida de cada pessoa em particular que vivia naquelas cidades agora reduzidas a escombros.
As noticias vindas da Rússia russo, são poucas e escassas nada dizendo de real, mas sim, apenas e só o que Vladimir Putin e a sua comitiva deixam e fazem questão que se saiba, já ninguém acredita naquele louco (outro Hitler). Porém os soldados russos estão tão expostos com os soldados ucranianos e uns e outros estão a ir para uma frente de batalha que ninguém quis. Existe porém uma diferença entre uns e outros, os ucranianos estão a defender uma Pátria enquanto muitos soldados russos nem sabem o porquê de atacar a terra dos outros, tão somente porque o Sr. Putin assim o decidiu.
levara semanas a decorar as falas que ia desempenhar naquela peça de teatro que a escola estava a organizar, dedicara-se a isso de corpo e alma, todos os dias no seu quarto reservava um tempo generoso para decorar e ensaiar . Também já aplicara toda aquela maquilhagem branca no rosto e vestira o fato branco que estava pendurado num cabide à espera para ver como seria o seu aspecto no palco. Estava preparado para representar e dar alegria aos espectadores.
Ansiava por aquele dia, queria mostrar os dotes de actor e estava feliz.
Já vinha a ouvir a algum tempo rumores sobre uma possível guerra mas sempre pensara que não passaria de suposições e que os governantes jamais iniciariam uma guerra.
Não imaginava porém, que, precisamente no dia que estava marcado para a estreia, começariam a cair bombas na sua cidade e em vez de vestir aquela roupa branca destinada à sua personagem, a mãe lhe disse que vestisse uma roupa normal mas quente, preparasse um bom agasalho, metesse algumas peças de roupa e os seus produtos de higiene numa mochila porque tinham que deixar a cidade o mais rápido possível.
Tudo lhe caiu.... olhou o fato branco uma mais vez, o fato que iria ficar ali pendurado e que já não o iria voltar a ver, uma tristeza sem fim lhe inundou o rosto, as lágrimas saltaram sem aviso, despediu-se do pai, despediu-se da casa e dando a mão à mãe caminhou até à estação do comboio!
O palco, o teatro, o fato e as falas que tinha decorado com tanto empenho eram agora uma sonho que não se realizaria.
Entrou no comboio e sem aviso entrou também num teatro que não tinha sonhado e que não era o dele, onde as falas não eram as que tinha decorado, aquele era um teatro real para o qual não estava preparado, onde ele era actor e espectador em simultâneo! Era o teatro em que o guião não tinha um final definido. Muitos finais poderiam acontecer.
Estava muito triste, sabia que ao entrar naquele comboio a sua vida iria mudar para sempre, estava a partir para uma incerteza tão grande que não lhe cabia no coração!
Era o inicio da invasão da Rússia contra a Ucrânia.