Como olhamos para o nosso carro
Há sonhos que temos durante uma vida, que nunca passarão disso mesmo, sonhos; sonhamos com coisas que sabemos à partida, que nunca acontecerão. Esses são os sonhos que preenchem os nossos devaneios, os momentos em que a nossa mente parece se separar do nosso corpo e assumir uma individualidade própria.
Podemos estar assim, com essa sensação de fuga a "sonhar" ou a viver coisas impossíveis, que nem sempre são sonhos. A isso eu chamo "uma vida extra".
Estes sonhos ou devaneios não se dirigem apenas a riquezas materiais e a vidas luxuosas. Existem actos, valores morais, riqueza interior e enrequecimento pessoal que também são responsáveis por levar a mente a outras dimensões a ponto de, quando recuperamos, termos a sensação de se ter andado perdido durante algum tempo que podem ser segundos como periodos maiores.
Quantas vezes já me aconteceu ter feito uma viagem inteira e não me recordar de ter visto os sítios por onde passei, nem sequer o que vinha a pensar. Nestes percursos a minha mente andou perdida ou sonânbola, não sei que nome lhe dar.
Depois, há os outros sonhos, aqueles que temos enquanto dormimos, aqueles que por vezes nos fazem acordar em sobressaltos, é de um desses sonhos que passo a descrever agora.
Imagine que vai meter gasolina no carro, chega à bomba, porque precisa de ir falar com alguém que ali está próximo, sai do carro, fecha a porta, tira a chave, e vai falar com esse alguém. Quando volta para meter o combustível no carro, só vê o lugar, do carro nem sombra. Desnorteada olha para todos os lados, o carro tem que estar por ali, tem a certeza que o deixou ali, fala com pessoas, ninguém viu nada. Desata a chorar, ficou sem carro, não tem dinheiro para comprar outro como aquele. O carro são as suas pernas. Aflita, acorda e percebe que aquilo não passou de um sonho, sossega e volta a adormecer porque a noite ainda é uma "criança". (Espero que não se concretize).
Dizem que não sentimos falta daquilo que nunca tivemos, (não concordo muito com esta expressão mas este será um tema para outra ocasião). Quando se tem um carro há varios anos, se por qualquer motivo ficarmos sem ele, vamos sentir a sua falta na nossa vida, e muito. Além da falta que ele nos faz no dia a dia, ao longo do tempo fomos estabelecendo com ele um acentuado sentimento de pertença, de companheirismo e uma empatia como se pessoa e carro fossem um só!