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Abrigo das letras

Um blogue para interagir com as pessoas partilhando imagens, ideias e pensamentos!!

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Chuva

Maria, 10.03.22

Abri a janela para ver a chuva cair, a musicalidade que aos meus ouvidos chegava das  grossas pingas a cair do beiral do telhado, indiferentes se eram bem vindas ou não, da água a correr pelo pátio abaixo, deslizando suavemente entrava direitinha no reservatório que está abaixo do solo. No quintal os feijões acabados de serem semeados recebiam esta abençoada chuva, que os iria fazer germinar dentro de pouco tempo.

Adoro ver as plantas que sulcam timidamente a terra tal como uma criança que se anuncia nascer, resultante das sementes que cuidadosamente deixei cair. Começam a surgir um pouco envergonhadas, apenas uma pontinha verde desponta de inicio mas depois começam a crescer de dia para dia até se tornar numa planta grande, florir e deixar desabrochar o legume próprio da sua natureza.

Hoje o céu enegreceu, as nuvens tornaram-se densas e escuras e a chuva do céu caiu, como uma bençao, da janela eu via a chuva cair na estrada e a água a saltitar em cima dos carros, estes com o limpa para brisas a funcionar afastavam a chuva que lhes batia nos vidros.

Também aquela senhora caminhava de guarda chuva aberto se resguardando da chuva, os sapatos chapinhando na água, estaria feliz por finalmente poder caminhar enquanto chove? Também ela sentirá como eu que chegamos à primavera sem ter havido Inverno? 

Da minha janela senti o cheiro a terra molhada, senti o ar mais limpo e isso deixou-me feliz. Não necessito de coisas muito elaboradas para ser feliz, o facto de ver a chuva cair, sentir o cheiro da terra molhada enquanto se atravessa uma seca severa é motivo suficiente para me sentir feliz!

Não fosse o facto de alguém me ver e dizer que enlouqueci, iria para o meio da rua sem guarda chuva abarcar esta chuva nos meus cabelos, no meu rosto, no meu corpo e dizer "Obrigada" (É claro que logo de seguida iria para o duche para aquecer)!

 

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Entre Carvalhos e Sobreiros

Maria, 28.02.22

Iniciamos a nossa caminhada expressando os nossos sentimentos em comunhão com o povo ucraniano e o povo russo. Aos homens e mulheres que são enviados para a frente de guerra sem opção de recusa enquanto os líderes da Rússia assistem de poltrona ao invés do presidente da Ucrânia que se torna um soldado igual aos seus soldados e se recusa a estar apenas assistir dizendo "não preciso de um táxi, necessito é de munições". Comentamos actos heróicos dos ucranianos que em defesa da sua pátria oferecem a sua vida e é com o coração apertado que falamos sobre as imagens que nos chegam casa adentro sobre um povo que tem que abandonar tudo e fugir carregando as suas crianças ao colo e os seus animais, deixando para trás o marido, o irmão, o pai, o amigo. Interrogámos-nos, para onde irão as pessoas?? terão lugar para onde ir?? Como pudemos ajudar??? e as respostas ficam-nos a flutuar.

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As conversas são como as cerejas e damos por nós já a falar da "pandemia", onde está ela? já ninguém fala da pandemia... se ninguém fala quer dizer que acabou.... não, não acabou, simplesmente passou para um plano menos relevante, felizmente a sua força está a esmorecer, porém não podemos deixar cair a máscara, e a guerra na Ucrânia não pode ser uma desculpa para afrouxarmos. Como pouco mais à a acrescentar sobre a pandemia e toda a gente já está a fazer a sua vidinha normal passámos ao assunto da falta de chuva.

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Por estas bandas parece que a seca não se faz sentir, constatamos que os campos estão todos verdes, que há pasto para os cavalos que vemos ao longe, para as ovelhas que estão ao nosso lado e para as vacas que tranquilas se alimentam um pouco mais além, embora não se ouça nem se veja a água a correr nos ribeiros. De qualquer forma mais uma pergunta deitamos para o ar, será que aqui choveu mais do que em outras zonas??

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Porque há mais vida para além destas realidades, passamos a aproveitar aquilo que de facto estávamos ali para fazer e, durante as horas seguintes afastamos das nossas mentes essas duas presenças,  limitámos-nos a apreciar o que a natureza nos oferece como o grasnar de um corvo, o piar de uma águia ou os barulhos estranhos que por vezes se ouvem vindos do meio do mato. 

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Observamos a flora, constatamos que a zona é muito arborizada com carvalhos e sobreiros, embora o eucalipto e o pinheiro manso também marquem a sua presença. Por vezes aparece-nos algumas subidas "manhosas" que pôem à prova o nosso desempenho nesta aventura das caminhadas, mas "metemos uma mudança mais baixa" e devagar devagarinho chegamos ao planalto. Ignoramos o marco geodésico que se encontrava bem lá no cimo do monte, o corpo já acusa algum cansaço e portanto... esquece.... fica para a próxima. Mais adiante depara-se na nossa frente um banquete, o porco está no churrasco assim como os frangos e os chouriços, cheira bem, faz lembrar ao nosso estómago que está na hora do almoço, mas o nosso ainda tem que esperar. Perguntamos em jeito brincalhão  "há lugar para mais um?" o pessoal riu-se e nós seguimos o nosso caminho.

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Ao chegamos a casa a televisão de imediato nos põe a par da dura e triste realidade do momento, os ataques agravam-se na Ucrãnia, cresce dentro de nós contra o presidente da Rússia uma revolta tão grande que dá vontade de o "esganar". Aquilo que está a acontecer agora, neste tempo que é o nosso, não cabe e não se encaixa na nossa vida. Habituados que estamos a viver em paz e habituados a ver estas coisas nos filmes e lê-las nos livros como sendo acontecimentos de eras passadas, a sensação que se tem é de que estamos a recuar no tempo e que estamos a entrar dentro dos filmes e livros e a ser as suas personagens!

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Caminhos da serra

Maria, 22.02.22

É um dia de Inverno, mas o céu está azul e o sol brilha em todo o seu explendor, a temperatura está amena, um dia delicioso para enveredar por aqueles caminhos no meio da serra.

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Todos os caminhos estão ladeados pela cor da alegria, o amarelo lindo e suave das mimosas que desabrocham, embelezam e perfumam os trilhos da serra. A Primavera antecipada.

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Por cima de nós três águias esvoaçam e cantam livremente alheias aos problemas sérios que este estado de tempo atípico que se debruça sobre nós. Nesta altura do ano, em estado normal,  a erva estaria alta e molhada, o piso estaria lamacento e escorregadio, andaríamos a chafurdar na lama, a saltar poças de água e atravessar ribeiros, nada disto acontece e  nos confunde.... estamos no inverno ou no verão???

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Procuramos as sombras das frondosas árvores que se erguem altas e imponentes, as suas raízes bem fundas distendem-se à procura de humidade, muitas estão despidas de folhagem.

20220220_132638.jpgUma extensão de arbustos completamente floridos se estende ao nosso lado esquerdo criando uma visão extraordinária! 

Fui ver o rio

Maria, 13.02.22

Olho o leito do rio com desalento, um fio, apenas um fio de água ainda se aguenta a percorrer o caminho, mais à frente esse fio vai ser travado, as hortas que estão nas margens alimentam-se dessa água que o rio trás. Ergo os meus olhos ao céu, detecto algumas nuvens, as previsões dizem que vai cair alguma chuva, tenho as minhas dúvidas.... 

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A terra abre-se em frestas com a secura e, em um local ou outro assiste-se com algum espanto à resiliência da flora, como pode uma planta tão frágil germinar e desenvolver-se num local tão árido.

A seca que nos atinge é uma forma de a natureza colocar à prova a resiliência humana, ou uma forma de nos avisar de que devemos ter mais respeito pelo meio que nos acolhe, pelo ambiente que queremos deixar aos nossos filhos e netos, às gerações futuras.

O rio quase não corre, está ali enfraquecido, desalentado, cheio de lixo seco.

Lanço um grito calado em todo o comprimento do rio, em solidariedade, também eu e o ar que respiro clamam pela chuva.

Ela virá, porque  em cada um de nós existe a Fé e a Esperança!

 

 

 

Desafio de Escrita do Triptofano

Maria, 10.02.22

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Tio, o que estás a fazer?

Deito sementes à terra!

E elas vão germinar?

Sim, mas tenho que as regar se não chover,

Achas que vai chover tio?

Não sei quando meu sobrinho, o S. Pedro esqueceu-se de nós,

Porque dizes isso tio?

Porque não chove há imenso tempo, a terra está muito seca e os nascentes estão com pouca água,

Tio, a água é muito importante para a vida das plantas e também para a nossa não é?

Sim, meu querido, quando deitamos a semente à terra, ela precisa de humidade para germinar, temos sempre esperança que essa semente dê bons frutos mas para isso acontecer temos de regar se não chover, temos que tratá-la com carinho, livrá-la das ervas daninhas e colhê-la na altura certa.

Sabes meu querido menino, nós somos as sementes que os nossos pais deitaram à terra para germinar e também darmos os nossos frutos e assim dar continuidade à nossa espécime, por isso, é nosso dever cuidar da nossa vida e do nosso corpo com amor e carinho porque ela é o Dom Maior existente na Terra!

Texto escrito para o Desafio de Escrita do Triptofano

Os Desafios da Abelha

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