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Abrigo das letras

Um blogue para interagir com as pessoas partilhando imagens, ideias e pensamentos!!

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O meu olhar sobre#2#rosto de um idoso

Maria, 08.02.21

De olhar cansado pelos anos onde já não há lugar para as letras, a visão a falhar saída de uns olhos quase escondidos pelo sulco das rugas que os envolvem, existe uma serenidade que não foi roubada pelos anos de trabalho árduo. Um rosto outrora, robusto e queimado pelo sol, pelo frio e chuva encontra-se agora claro e flácido envolto numa rala cabeleira branca, também sinal de uma juventude que há muito o abandonou.

Segura a bengala que o ampara quando dá os seus pequenos passeios, porque as forças pujantes de outrora escasseiam agora mas, não obstante as dificuldades ele obriga-se a caminhar um pouco todos os dias, segue as recomendações do médico, diz que é bom para o coração e para os movimentos dos ossos e músculos. Os seus passeios são curtos mas o suficiente para que não perca mobilidade.

Sente uma saudade atroz do tempo em que trabalhava de sol a sol, de mexer na terra, da faina do tractor, de arrancar da terra o produto da sementeira, sente saudade de sentir a roupa molhada pela chuva, e do calor abrasador do verão, do cantar dos pássaros e dos passos que o levavam às terras.

Aos domingos ia à missa, nunca falhava antes da pandemia, gosta de lá ir, toda a sua vida foi, já não sabe se vai por devoção ou por hábito, é uma coisa que faz parte da sua vida. Agora não há, encara isso com alguma tristeza, diz o neto que se alguma vez voltar a ir tem que levar uma máscara, acha isso uma coisa estranha mas já se habituou a ver toda a gente de máscara...

Poucas são as coisas que o prendem à vida, já viveu muito, diz. A única coisa que lhe dá uma felicidade imensa, a mais importante do seu dia, é a visita dos seus filhos, conta os dias e as horas que faltam para eles chegarem, sabe exactamente quem vai  naquele dia e conta as mesmas histórias vezes sem conta, pequenos episódios da sua longa vida e lendas que ouviu contar. Agradece todos os dia a Deus pela sua vida e pede pela saúde da sua família.

Nota-se no seu rosto e nas suas mãos as marcas de uma vida árdua mas também de muito amor, e os seus olhos transmitem em cada momento a serenidade que o seu coração contém!

Carrega nos ombros o peso dos anos e a solidão dos dias!

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Pequeno povoado em ruínas

Maria, 12.08.16

Num dos meus passeios neste verão passei por uma estrada onde deparei com este pequeno povoado em ruínas, situado num vale, rodeado de árvores idosas. Olhei demoradamente para ele e pensei - as pessoas já se foram todas mas as árvores continuam cá assim como os esqueletos das suas casas. Então imaginei as vidas que ali nasceram e cresceram, imaginei este povoado embora pequeno, cheio de crianças a brincar na rua, misturadas com os animais na terra batida pelo calcar continuado dos pés das pessoas e dos animais. Imaginei as chaminés sempre a fumegar já que o lume se acendia de manhã para preparar o pequeno almoço e mantinha o brasido aceso até à preparação do jantar, também ia aquecendo a casa nos dias frios de inverno. Imaginei as mulheres em grande azáfama, trajadas de forma antiga com saias compridas, avental e lenço na cabeça, imaginei-as a vir da fonte com cântaro à cabeça, e os homens de calças muito cossadas com remendos, coletes, barrete preto na cabeça e uma alfaia agrícola ao ombro.

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 Não pude deixar de registar este momento, momento em que deixei a minha imaginação divagar até idades mais remotas, até ao tempo em que a evolução tecnológica ainda não tinha estragado a pureza das pessoas e a natureza, recuei até à época em que o petróleo ainda não fazia poluição.

 

Ao contemplar este povoado, por escassos momentos esqueci-me que em que época vivia, e que ali, naquelas ruínas existiu muita vida, muita azáfama, e agora estão ali os esqueletos esquecidos dessas vidas.....

Os Desafios da Abelha

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