Há gavetas na nossa casa que por norma quase nunca são abertas e até acontece nos esquecermos daquilo que lá está dentro. É verdade, hoje abri uma dessas gavetas e olhei o caderninho com capa dura, azul e branca, onde há muito havia escrito uns poemas, dele retirei este,  escrito em 2021.

Deixa-te voar até às nuvens 

nas asas imaginárias do vento,

Deixa-te invadir

 pelas auras do sentimento,

Deixa-te ser um rio que corre 

num leito vivo e refrescante,

Ama o verde dos campos

com a loucura de um amante!!

Há dias assim, a inspiração foge entre assuntos e mais assuntos que há para tratar, olha a rua através da janela, vê o mar ao longe, alcança a serra com o olhar, ouve os pássaros cantar, as nuvens a deslizar, mas a inspiração... essa, varreu-se. Pensa naquela cena do dia anterior que a deixou à beira de um ataque de nervos e que tem que arranjar coragem e palavras para a resolver sem melindrar ninguém, o que não vai ser tarefa fácil quando as pessoas em questão se melindram por tudo e nada...pensa na situação de vida de alguns idosos que estando totalmente dependentes já não têm vida nenhuma, estão ali até que Deus se lembre deles... pensa em tantas coisas mas, a inspiração está vazia....