Os sons que atravessam rua e as janelas chegam-me aos ouvidos na forma de música a tocar num som bastante elevado, mas levando em conta que a hora da noite ainda suporta este tipo de ruídos, a juventude está no auge e precisa de se divertir. Ao fim e ao cabo é sabado à noite.... Possivelmente está a decorrer uma festa de anos, a churrasqueira está acesa, a carne a grelhar e todas as luzes da casa estão acesas....
Sabado á noite... também eu poderia estar numa festa ou num cinema, mas o conforto da minha casa é tanto ou mais agradável que essas coisas, enroladinha numa manta e de lareira acesa, um filme na televisão, boa companhia e estão reunidas as condições para ser uma noite bem passada!
Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha. Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono, entre o fogo e a água. Talvez bem tarde nossos sonos se uniram na altura e no fundo, em cima como ramos que um mesmo vento move, embaixo como raízes vermelhas que se tocam. Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro me procurava como antes, quando nem existias, quando sem te enxergar naveguei a teu lado e teus olhos buscavam o que agora – pão, vinho, amor e cólera – te dou, cheias as mãos, porque tu és a taça que só esperava os dons da minha vida. Dormi junto contigo a noite inteira, enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos, de repente desperto e no meio da sombra meu braço rodeava tua cintura. Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos. Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca saída de teu sono me deu o sabor da terra, de água-marinha, de algas, de tua íntima vida, e recebi teu beijo molhado pela aurora como se me chegasse do mar que nos rodeia.
Estou deitada, deixo cair as pálpebras sobre os olhos e vejo o escuro. Um escuro cheio de sombras, as mesmas sombras que povoaram as horas de luz que se apagaram com o cair da noite. Sim, vejo o escuro e escuto o silêncio da noite, nesse silêncio ouço sons. Não o som do vento ou da chuva, hoje tudo está muito tranquilo, ouço o som das paredes, talvez porque sei que elas estão ali a protger-me do frio e da maldade do mundo. Decoram as minhas paredes alguns quadros que não deixam esquecer momentos já vividos e eternizados pelas imagens recolhidas por uma qualquer máquina fotográfica. Ouço as vozes dos móveis que sussuram entre si palavras que não compreendo, ouço-os porque sei que estão ali, que fui eu que os escolhi para conforto do meu quarto e das minha coisas. Os meus ouvidos escutam sons que mais ninguém escuta, parecem sons vindos de um búzio quando o encostamos ao ouvido e temos a sensação de escutar o mar ao longe. A letargia destes sons é quebrado pelo ladrar tímido de um cão, que logo se cala, parecendo envergonhado por ter perturbado esta tranquilidade. Tudo volta ao normal e ouço a minha própria respiração. A minha respiração é tranquila, normal, sei que vou adormecer daqui a nada e vou sonhar sonhos que de manhã não me vou recordar. Este amanhã é o agora e não me lembro dos sonhos da noite!