O chão e as máscaras
Inicio a minha caminhada a partir de casa e vou caminhar sozinha até onde os passos me levarem. Visto uma roupa confortável, calços os meus sapatos de caminhar à prova de água e na cabeça ponho uma fita de malha. O telemóvel e os fones vão me acompanhar para ouvir música, escolho uma série de músicas portuguesas e ouço, Marisa, Camané, Carminho, Carlos do Carmo e outros que também gosto. Na mão levo uma pequena garrafa de água.
O dia estava claro, liberto das nuvens negras, do nevoeiro e das chuvas dos últimos dias. Não dá para ficar dentro casa hoje, pensa, tenho que sair. O sol já desponta e aquece. Mesmo em confinamento saio de casa, vou caminhar para sítios onde poucas pessoas andam.
É certo que tenho que atravessar a aldeia, mas até mesmo na aldeia quase não cruzo com ninguém, no entanto, como caminho sozinha estou mais atenta ao que surge à minha frente e, mesmo não encontrando gente nas ruas, a aldeia ferve de vida com as pessoas do lado de fora das casas dentro dos seus quintais entretidas com afazeres ou simplesmente a apanhar sol, um pouco de vitamina D é bem vinda, as roupas a secar ao sol dão vida e cor aos estendais, as janelas abertas de par em par renovam o ar das casas e alguns homens preparam terreno para plantar as plantas que lhe darão produtos frescos nas suas pequenas hortas no inicio da Primavera. Passo por uma senhora que está a despejar o lixo, reparo no seu cabelo branco e o sol que incide sobre o mesmo empresta-lhe uma luminosidade e reflexos extraordinários nos fios. Achei aquele cabelo lindo.
Quando deixo a aldeia para trás, entro numa zona de pinheiros onde o caminho é de terra, mas tem pouca lama, avisto uma coisa azul claro pendurada num galho de um carrasco, ao aproximar-me vejo que é uma máscara.
Durante as minhas caminhadas encontro com frequência máscaras caídas nas bermas dos caminhos ou das estradas, não entendo o porquê ou o que é que custa colocá-las no sitio certo. Existem tantos contentores espalhados por todo o lado, e uma máscara é uma coisa tão pequena, porquê deitá-la no chão. Muitas vão parar ao mar levadas pelo vento e pela água das chuvas. É extremamente desagradável o cenário que se nos depara com as máscaras caídas aqui e ali. Uma falta de respeito para com o próximo e para o ambiente.
Gosto de rios, ribeiros, ribeiras e quedas de água, devido às chuvas constantes que têem caído, encontro com alguma regularidade estas águas correntes. A água tem um poder calmante sobre mim!
No fim de uma hora e meia de caminhada, chego a casa. Foram 8 Kms!