Quando a rua era o maior parque natural infantil, com baloiços improvisados nos pinheiros perto de casa, jogos desenhados no chão de terra, como por exemplo um caracol que, saltando ao pé cochinho se fazia deslizar um caco em todas as suas voltas; pequenas covas escavadas na terra para jogar ao berlinde, estes eram preciosidades coloridas que deslizavam entre os dedos, empurrados para bater nos outros, os joelhos esfolados não eram problema para ninguém, e o pião impulsionado por um fino cordão redopiava em círculos avassaladores num frenesim desenfreado; a cabra-cega ou o lencinho que vai na mão, as escondidas, o jogo do mata ou a rabia, tantas eram as brincadeiras que um dia não chegava para satisfazer a imensa vontade de brincar, no campo a rua era o nosso lar. As crianças eram tão felizes com tão pouco, bastando-se umas às outras para extravasar uma felicidade que ultrapassava toda uma tecnologia ainda nem sonhada num futuro que surgiu depressa demais.
O dia da criança eram todos os dias, que me lembre não havia um dia especial para elas. Faço uma pergunta a mim mesma, será que com tanta tecnologia, tantos jogos nas caixas, tanto parque infantil, tanta comida processada, tanta roupa de marca, tanto transporte, tanta festa de anos, etc... etc... as crianças são mais felizes que outrora quando nada disto existia? quando se recorria à imaginação para construir os próprios brinquedos, quando com qualquer coisa se fazia um carrinho ou uma boneca?
Mas a vida é uma evolução constante, faz parte, sempre foi assim, e eu lembro a minha época e a comparo com a actual época, por isso tenho as minhas dúvidas, pressinto que o tipo de felicidade, liberdade e criatividade, mesmo com muito menos meios era superior e mais genuína que hoje principalmente para quem vivia nos meios rurais.
As crianças merecem tudo de bom e isso implica também responsabilidades, negas quando necessário, elogios quando merecidos, acompanhamento e também espaço para autonomia e liberdade.
Feliz dia da criança para as crianças de todo o mundo especialmente para aquelas que estão a sofrer nos países onde a guerra é uma constante ou nas famílias mal formadas, conflituosas e agressivas!!
O mundo visto pelas crianças, uma rubrica de Marta Campos na Rádio Comercial. "Qual é a coisa mais valiosa que guardas em casa?" é a pergunta deste dia feita a umas tantas crianças, até aqui tudo normal. Quando uma delas responde: "Um diamante de plástico".
Ao volante do meu carro, ouvindo a rádio comercial, não deixei de me rir sozinha com a simplicidade desta resposta, faz sentido, mesmo sendo de plástico não deixa de ser um diamante para aquela criança, sabendo ela de antemão que um diamante é sempre qualquer coisa de muito valor claro está!
Por vezes conduzimos tão absortas em pensamentos nada abonatórios da nossa saúde mental que ao ouvirmos uma resposta destas vinda de uma criança é uma lufada de ar fresco que de repente nos entra carro adentro quase como se tivesse aberto todas as janelas. Obrigada Rádio Comercial por nos proporcionares momentos como este!
Já se ouve ao longe a alegria das crianças, hoje é o dia delas, em grupos de dez ou de duas ou três, aí andam elas alegres a percorrer as ruas da aldeia com os seus sacos coloridos e muitos sorrisos no rosto. Ouve-se em uníssono "há pão por Deus". Quase revejo nestas crianças a menina que eu fui, quando alegre fazia os mesmos caminhos com a mesma alegria que eles (é tão bom ser criança). A chuva deu lugar a lindo dia, apenas com algumas nuvens, o S. Pedro a lembrar-se de que esta é uma festa das crianças e de que eles adoram este dia!
Também eu amo este dia, de propósito fico em casa para apaparicar estes meninos e meninas com rebuçados, gomas ou caramelos que vou deixando cair nos seus sacos de panos coloridos. Obrigada, obrigado, obrigada.... vou ouvindo de cada um à medida que as guloseimas vão caindo .... depois seguem quase cantando pele rua "há pão por Deus"!
E mais uma vez fiz a experiência de amassar uma broas, que ficaram deliciosas!
Rápidamente passam os anos, chegamos mais uma vez a esta data tão apreciada pelas crianças. O dia do "Pão por Deus" celebrado todos os anos a 1 de Novembro , feriado e dia santo, denominado o dia de Todos os os Santos, é também o dia em que as pessoas rumam ao cemitério a limpar e a compôr as últimas moradas dos seus entes queridos.
Mas, falava eu do dia de "Pão por Deus", este dia em que as crianças saem à rua, normalmente em grupo, por vezes acompanhados por alguém adulto, com os seus saquinhos coloridos e chegam-se à porta das pessoas e pedem o dito "Pão por Deus".
Confesso que faço sempre por estar em casa nesta manhã, pois me dá um prazer enorme participar desta festa das crianças, depressa me vem à mente uma época longínqua (mas não tanto, porque o tempo passa depressa demais) em que eu também fazia isso, e era algo que apreciava muito, não só pelo convívio com os outros mas também porque naquela época as oportunidades de comer goluseimas eram muito raras.
Esta é uma tradiçao que remonta a épocas muito antigas, li em algum sítio que terá começado após o terramoto de 1755, dia em a terra tremeu e que atingiu particularmente o litoral português e o Algarve, destruindo a cidade de Lisboa. A fome e a miséria eram muito fortes e as crianças com necessidades extremas começaram a ir pedir à porta das pessoas o Pão por Deus para mitigarem a fome que as atingia.
A tradição mantém- se até aos nossos dias, mas, felizmente agora com um sentido diferente. Actualmente é um dia de festa para as crianças.
Deixo aqui a imagem do que tenho preparado para dar as todas as crianças que à minha porta vierem ter, e todas serão bem vindas!
Elas são a alegria, a inocência, a verdade, a pureza, o movimento, a cor e o riso, elas são a nossa continuação e a continuação de um país. Elas são o futuro.
Por tudo isto, todas as crianças sem excepção, independente de raça, cor ou religião merecem ser tratadas com carinho, amor e respeito.
Hoje, dia mundial da Criança, quero deixar aqui o meu apelo a que ninguém maltrate as Crianças e o meu registo com esta frase: