Gato por lebre
Era domingo, e como já vinha sendo hábito aos domingos iamos almoçar ao restaurante, tentávamos variar os restaurantes para podermos assim fazer a degustação e comparação entre uns e outros. Neste domingo, vendo a ementa verifiquei que havia coelho à caçadora, como sou uma apreciadora desta carne e da forma como é cozinhada, resolvi pedir esse prato.
Tudo muito bem, pediu-se um bom vinho tinto para acompanhar, vieram as entradas, pãozinho quentinho e tudo o mais a que havia direito...
Chegados os pratos pedidos, para ele foi outra escolha para mim o referido coelho à caçadora. Preciso dizer que o que mais aprecio no coelho são as patas, as mãos, a cabeça, o pescoço, as costelas e ainda o figado. O que menos aprecio é precisamente o lombo, acho que é uma parte mais seca. Ora bem, olhando para o meu prato, só encontro lombo, nada mais, uns tantos bocados de apenas lombo. Desiludida comento com a pessoa que me acompanha - este coelho era anormal. Comi.
Passado um bocado o dono do restaurante e também cozinheiro, chega-se a nós e pergunta se está tudo bem - não me contive e disse: Sim a comida está saborosa mas diga-me uma coisa - este coelho era anormal? Não sei porquê ele percebeu de imediato a pergunta e responde-me logo; é que eu ontem fiz coelho à caçadora só com as patas e mãos e deixei os lombos para grelhar para hoje, mas hoje acabei por fazer novamente coelho à caçadora e é por isso que só lhe apareceu lombos... uma grande conversa que não engoli. Comi o coelho mas não engoli o raio da desculpa que ele arranjou para justificar o erro de só colocarem pedaços de lombo no meu prato. Cabe então na cabeça de alguém fazer coelho à caçadora só com uma coisa ou só com outra e mais, em minha opinião, se o lombo já se torna seco estufado imaginem grelhado?
Não era gato nem era lebre, era apenas uns bocados de lombo de coelho que a mim me soube ser "gato quando pedi lebre"!