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Abrigo das letras

Um blogue para interagir com as pessoas partilhando imagens, ideias e pensamentos!!

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Pulsar de vida

Maria, 15.06.22

Nesta primavera com temperaturas de verão, e quando o inverno não nos visitou, não é de admirar que os lagos, charcas e barragens estejam muito aquém da sua capacidade, dói, olhar e ver toda aquela superfície descoberta que devia estar coberta de água, dói quando se caminha pela serra e não se encontra um fio de água corrente, dói sentir o clamor da terra, dói sentir o apelo estridente dos ribeiros, dói sentir a falta da frescura natural da serra.

Ainda assim no meio de tanta dor, ainda que o pó se espalhe no ar, ainda que as pedras do caminho se soltem da terra, ainda que os galhos nos piquem as pernas, ainda que os sapatos escorreguem nos grãos de terra seca, ainda que o sol nos queime a pele... ainda assim, nós, os caminhantes, os ciclistas e aqueles que vão nas motas, ainda assim a serra pulsa de vida.

E neste pulsar de vida existem pequenos milagres se assim o quisermos chamar, ou "horas de sorte" como outros lhe chamarão. O caminho é uma descida incrível cheia de socalcos e pedras e no meio do nada, algo toca, um som de telefone vindo do chão desperta a atenção dos caminhantes.... que é isto??? todos os olhares se viram para o sitio de onde vinha o som e ali caído no meio das ervas estava ele. Alguém pega e atende a chamada, do outro lado alguém atende... era o proprietário do mesmo que na sua busca   ia ligando para ver se o ouvia tocar. Chamaremos a isto "Hora de sorte" "pequeno milagre"!!!! ou apenas uma boa coincidência o facto de este pequeno grupo de caminhantes estar a passar ali precisamente na hora que o telefone tocou, porque se não tocasse ninguém daria pelo aparelho uma vez que ele estava meio escondido nas ervas. Há coisas que nos fazem pensar que nada acontece por um simples acaso!

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Entre Carvalhos e Sobreiros

Maria, 28.02.22

Iniciamos a nossa caminhada expressando os nossos sentimentos em comunhão com o povo ucraniano e o povo russo. Aos homens e mulheres que são enviados para a frente de guerra sem opção de recusa enquanto os líderes da Rússia assistem de poltrona ao invés do presidente da Ucrânia que se torna um soldado igual aos seus soldados e se recusa a estar apenas assistir dizendo "não preciso de um táxi, necessito é de munições". Comentamos actos heróicos dos ucranianos que em defesa da sua pátria oferecem a sua vida e é com o coração apertado que falamos sobre as imagens que nos chegam casa adentro sobre um povo que tem que abandonar tudo e fugir carregando as suas crianças ao colo e os seus animais, deixando para trás o marido, o irmão, o pai, o amigo. Interrogámos-nos, para onde irão as pessoas?? terão lugar para onde ir?? Como pudemos ajudar??? e as respostas ficam-nos a flutuar.

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As conversas são como as cerejas e damos por nós já a falar da "pandemia", onde está ela? já ninguém fala da pandemia... se ninguém fala quer dizer que acabou.... não, não acabou, simplesmente passou para um plano menos relevante, felizmente a sua força está a esmorecer, porém não podemos deixar cair a máscara, e a guerra na Ucrânia não pode ser uma desculpa para afrouxarmos. Como pouco mais à a acrescentar sobre a pandemia e toda a gente já está a fazer a sua vidinha normal passámos ao assunto da falta de chuva.

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Por estas bandas parece que a seca não se faz sentir, constatamos que os campos estão todos verdes, que há pasto para os cavalos que vemos ao longe, para as ovelhas que estão ao nosso lado e para as vacas que tranquilas se alimentam um pouco mais além, embora não se ouça nem se veja a água a correr nos ribeiros. De qualquer forma mais uma pergunta deitamos para o ar, será que aqui choveu mais do que em outras zonas??

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Porque há mais vida para além destas realidades, passamos a aproveitar aquilo que de facto estávamos ali para fazer e, durante as horas seguintes afastamos das nossas mentes essas duas presenças,  limitámos-nos a apreciar o que a natureza nos oferece como o grasnar de um corvo, o piar de uma águia ou os barulhos estranhos que por vezes se ouvem vindos do meio do mato. 

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Observamos a flora, constatamos que a zona é muito arborizada com carvalhos e sobreiros, embora o eucalipto e o pinheiro manso também marquem a sua presença. Por vezes aparece-nos algumas subidas "manhosas" que pôem à prova o nosso desempenho nesta aventura das caminhadas, mas "metemos uma mudança mais baixa" e devagar devagarinho chegamos ao planalto. Ignoramos o marco geodésico que se encontrava bem lá no cimo do monte, o corpo já acusa algum cansaço e portanto... esquece.... fica para a próxima. Mais adiante depara-se na nossa frente um banquete, o porco está no churrasco assim como os frangos e os chouriços, cheira bem, faz lembrar ao nosso estómago que está na hora do almoço, mas o nosso ainda tem que esperar. Perguntamos em jeito brincalhão  "há lugar para mais um?" o pessoal riu-se e nós seguimos o nosso caminho.

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Ao chegamos a casa a televisão de imediato nos põe a par da dura e triste realidade do momento, os ataques agravam-se na Ucrãnia, cresce dentro de nós contra o presidente da Rússia uma revolta tão grande que dá vontade de o "esganar". Aquilo que está a acontecer agora, neste tempo que é o nosso, não cabe e não se encaixa na nossa vida. Habituados que estamos a viver em paz e habituados a ver estas coisas nos filmes e lê-las nos livros como sendo acontecimentos de eras passadas, a sensação que se tem é de que estamos a recuar no tempo e que estamos a entrar dentro dos filmes e livros e a ser as suas personagens!

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Da Praia do Abano à Peninha

Maria, 09.02.22

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Caminhar pelos campos ou pelas falésias é algo reconfortante, dá fadiga ao corpo e leveza à alma. Desta vez a escolha recaiu sobre a trilha a iniciar na Praia do Abano e subir, sempre a subir até à Peninha. Pelo caminho desfruta-se de paisagens maravilhosas até onde a vista alcança. lá em cima bem no alto está a Peninha, além a praia do Guincho, a vila de Cascais, a cidade de Lisboa e a ponte sobre o Tejo, para o outro lado é o cabo da Roca e mais longe a Ericeira, as vistas são deslumbrantes.

Os caminhos estão secos, a vegetação não está tão verde nem tão alta como seria de esperar nesta altura do ano, pedras soltam-se debaixo dos nossos pés e o pó inunda os nossos sapatos, as mimosas floridas de um lindo tom amarelo exalam o seu perfume e embelezam a paisagem numa extensa área florestal, olhando em frente tudo o que vemos de cor amarela no meio do verde da floresta, é a mimosa, não obstante a sua beleza delicada que inunda os nossos olhos, esta árvore  é ao mesmo tempo tão infestante que se tornou numa grande praga na serra de Sintra, elas crescem por todo o lado impedindo as outras espécies de se desenvolverem.

A vegetação é baixa e consegue-se ver outros caminhantes pelos vários caminhos e trilhos, o céu está azul e o sol aquece neste Inverno quente e seco. No meio do nada aparece um lírio roxo, prenúncio de uma estação primaveril antecipada. Junto à praia do Abano mesmo na arriba situa-se um restaurante que olhando por fora tem ar de abandono, mas quando entras encontras uma sala bonita, linda e acolhedora.

A praia é uma pequena baía com muitos calhaus antes de chegar ao areal, o acesso é feito por uma escadaria entre rochas a sul e mais a norte por caminhos pouco definidos, mesmo ao centro da praia está um enorme rochedo preto e crianças brincavam em seu redor. O acesso a esta praia é feito por uma estrada de terra batida, estreita em alguns lugares, nesta altura do ano está com imensos buracos e muito pó, tivemos que circular muito devagar e com as janelas fechadas, no entanto o transito para lá é muito!

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Agora os dias são todos iguais

Maria, 02.03.21

Numa época já passada a senhora X quando abria o guarda roupa, escolhia um vestido daqueles que mais gostava ou uma blusa fina para combinar com umas calças brancas, retirava da gaveta umas meias finas e punha de parte aqueles sapatos pretos de salto alto, após se equipar com isto tudo  aplicava um pouco maquilhagem,  olhava o espelho e sentia-se bonita.  Pronta para ir dançar. A hora combinada para sair estava prestes a chegar e a sua amiga devia estar a aparecer dentro de poucos minutos. Pegava num casaco e na mão levava uma bolsa pequena e um saco de papel com uns sapatos suplentes.

Na sala de dança, elas dançavam e rodopiavam ao som da música com os pares, desde que chegavam até à hora de sair dançavam quase todas as músicas e, quando os pés acusavam já algum desconforto, trocavam os sapatos por aqueles que iam no saco. Quando regressavam a casa vinham cansadas, mas felizes. Descontraídas e revigoradas, divertiam-se a comentar mais uma bela tarde de dança. Dançar e conviver era o escape que as motivava para iniciar com garra a próxima semana de trabalho. Era... porque agora já não é.... tudo se esfumou, trabalho, diversão, convívio.... com uma pandemia que surgiu em Março de 2020, agora os dias são todos iguais.

Por vezes a senhora X se baralha com os dias e tem que fazer contas para perceber  em que dia da semana está, se é quinta, se é sexta ou outro dia qualquer. Consequências nefastas do isolamento que uma pandemia sem precedentes causou.

Os dias são todos iguais, emersos numa rotina de um confinamento que tende a atrofiar até as mentes mais fortes. 

Inventam-se trabalhos para estar ocupado, inventam-se caminhadas por tudo quanto é sitio, corre-se no paredão e, ao Domingo com um dia cheio de sol  e uma temperatura primaveril vê-se gente por todo o lado. Por mais que se queira respeitar o confinamento existe algo dentro de cada ser humano que chama mais alto, que clama pela a vida que se deixou para trás, existe a ansiedade de sair, existe a vontade de beijar e abraçar com a naturalidade perdida as pessoas que são queridas, existe a vontade de voltar a ter refeições de convívio, existe a falta das festas populares.... Existe uma saudade tremenda de tudo.

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Os Desafios da Abelha

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