Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Abrigo das letras

Um blogue para interagir com as pessoas partilhando imagens, ideias e pensamentos!!

Abrigo das letras

Um blogue para interagir com as pessoas partilhando imagens, ideias e pensamentos!!

O chão e as máscaras

Maria, 13.02.21

Inicio a minha caminhada a partir de casa e vou caminhar sozinha até onde os passos me levarem. Visto uma roupa confortável, calços os meus sapatos de caminhar à prova de água e na cabeça ponho uma fita de malha. O telemóvel e os fones vão me acompanhar para ouvir música, escolho uma série de músicas portuguesas e ouço, Marisa, Camané, Carminho, Carlos do Carmo e outros que também gosto. Na mão levo uma pequena garrafa de água.

O dia estava claro, liberto das nuvens negras, do nevoeiro e das chuvas dos últimos dias. Não dá para ficar dentro casa hoje, pensa, tenho que sair. O sol já desponta e aquece. Mesmo em confinamento saio de casa, vou caminhar para sítios onde poucas pessoas andam.

É certo que tenho que atravessar a aldeia, mas até mesmo na aldeia quase não cruzo com ninguém, no entanto, como caminho sozinha estou mais atenta ao que surge à minha frente e, mesmo não encontrando gente nas ruas, a aldeia ferve de vida com as pessoas do lado de fora das casas dentro dos seus quintais entretidas com afazeres ou simplesmente a apanhar sol, um pouco de vitamina D é bem vinda, as roupas a secar ao sol dão vida e cor aos estendais, as janelas abertas de par em par renovam o ar das casas e alguns homens preparam terreno para plantar as plantas que lhe darão produtos frescos nas suas pequenas hortas no inicio da Primavera. Passo por uma senhora que está a despejar o lixo, reparo no seu cabelo branco e o sol que incide sobre o mesmo empresta-lhe uma luminosidade e reflexos extraordinários nos fios. Achei aquele cabelo lindo.

Quando deixo a aldeia para trás, entro numa zona de pinheiros onde o caminho é de terra, mas tem pouca lama, avisto uma coisa azul claro pendurada num galho de um carrasco, ao aproximar-me vejo que é uma máscara.

20210212_115901.jpg

Durante as minhas caminhadas encontro com frequência máscaras caídas nas bermas dos caminhos ou das estradas, não entendo o porquê ou o que é que custa colocá-las no sitio certo. Existem tantos contentores espalhados por todo o lado, e uma máscara é uma coisa tão pequena, porquê deitá-la no chão. Muitas vão parar ao mar levadas pelo vento e pela água das chuvas. É extremamente desagradável o cenário que se nos depara com as máscaras caídas aqui e ali. Uma falta de respeito para com o próximo e para o ambiente.

20210212_125909.jpg

Gosto de rios, ribeiros, ribeiras e quedas de água, devido às chuvas constantes que têem caído, encontro com alguma regularidade estas águas correntes. A água tem um poder calmante sobre mim!

20210212_122600.jpg

No fim de uma hora e meia de caminhada, chego a casa. Foram 8 Kms!

O baile da aldeia

Maria, 30.01.18

A aldeia era muito pequena, mas tinha uma capelinha, uma casa mortuária, um café, uma mercearia e também um pavilhão feito de raíz para a sede recreativa. De ruas curtas e estreitas, casas quase encavalitadas umas em cima das outras, algumas muito antigas, talvez com um século, mas recuperadas,  e um largo principal que dava acesso a quase a todas as ruas. Palmira saíra sa sua aldeia porque ansiava por mais da vida, ali quase sofucava, embora gostasse muito daquele local, um sítio aberto com uma vista fantástica sobre os campos, onde todas as pessoas se conheciam e se cumprimentava sempre que cruzavam umas com as outras, toda a aldeia no seu conjunto parecia um quintal onde todos faziam parte de uma grande família.

Naquele dia Palmira iria à sua aldeia, os seus contactos tinham-na informado do baile que ia haver à noite, sabia que a sala não ia estar cheia como noutros tempos, em que vinha gente das aldeias vizinhas e enchiam a sala, mas não seria por isso que ia deixar de ir, aliás, esse era mais um motivo para comparecer e, depois gostava de encontrar  e falar com as pessoas da sua terra, sabia que ali encontrava sempre muitas, podia pôr a conversa em dia no intervalo das danças.

O conjunto tocava músicas mexidas, os pares dançavam, outros apenas observavam o que se passava em redor, Palmira adorava dançar e dançava tudo, sempre gostara dos bailes da sua aldeia, muito diferente dos reboliços e agitações dos bares e discotecas das cidades, mas não dispensava também estes reboliços, gostava somente de contrabançar os dois modos de vida!

Baile na aldeia.JPG

 

Relação amorosa

Maria, 01.12.15

Quando, ainda menina habituara-se a ver a Senhora Alberta, mais conhecida por Berta, sentada no banco do automóvel em dias de sol, na companhia de um homem que era seu amante (um homem casado), os dois coversavam e desfrutavam a companhia um do outro, o sentimento que os unia, ela, ainda criança, jamais saberia. Nessa época, uma relação assim causava estranheza e era motivo de conversas nos lugares pequenos onde toda a gente se conhece e, onde toda a gente sabe tudo da vida uns dos outros. A Senhora Berta era uma senhora solteira (ou solteirona) como se  dizia na altura, de feições bonitas e finas, arranjava-se muito bem, vivia sozinha com o seu gato amarelo de pêlo macio e bem tratado. Era frequente vê-la no jardim a cuidar das suas plantas. Na Primavera, quando as roseiras começavam a florir, o jardim era uma explosão de rosas de todas as cores. Pelos seus modos educados e a forma cuidadosa que dedicava à sua aparência, era uma senhora diferente das restantes senhoras daquela aldeia. Porém, esta diferença não impedia que todos lhe dedicassem o devido respeito. Não tinha filhos nem sobrinhos, tinha aquele homem, o companheiro que lhe preenchia o vazio que habitava a sua alma e corpo. O Senhor X e a Senhora Alberta já não eram novos, iam envelhecendo unidos pela aquela relação ou aquele amor a que se tinham habituado. Certa altura, o senhor deixou de aparecer e soube-se na aldeia que tinha morrido. A senhora Alberta que só o tinha a ele, ficou entregue à sua solidão de mulher sem companheiro, sem filhos, sem sobrinhos, sem familia alguma. Entrou num estado de melancolia e tristeza e começou a definhar lentamente. Era difícil lidar com a perda e a idade um pouco avançada também não ajudava, a tristeza que lhe invadia a alma ia-a consumindo dia após dia, também não era senhora de muitas conversas. Tinha uma vizinha que era a sua única a amiga, que lhe dava algum conforto moral.  A senhora Alberta vivia numa boa casa, que era sua, pintada de cor verde, com o tal jardim que ela cuidava com a ajuda de um jardineiro. Quando adoeceu gravemente, a amiga cuidou dela com o amor e carinho como se de uma pessoa de familia se tratasse, a casa iria ficar para ela, estava escrito em testamento. A relação de amizade que estabeleceram ao longo dos anos foi o raio de luz que iluminou  os últimos e dificeis momentos da Senhora Alberta! 

relacaoamorosa.jpg

 

 

 

 

Sinto falta das pessoas que vão desaparecendo

Maria, 14.04.15

Um a um, homens e mulheres vão desaparecendo da minha aldeia, pessoas que me habituei a ver na sua vida ativa na época em que eu era ainda uma menina, pessoas que no seu dia a dia contribuiam para o desenvolvimento da sua aldeia e o sustento da sua familia. Hoje vejo as casas onde habitaram, algumas muito descuidadas, degradadas até, e sinto pena de as ver assim, outras ganharam nova vida, foram restauradas e estão muito bonitas, os seus antigos donos gostariam de as ver assim! As pessoas da minha aldeia ganhavam o sustento trabalhando a terra, todos os bocadinhos de terra, incluindo encostas eram amanhados para cultivo dos mais variados produtos que vendiam nos mercados das das vilas mais próximas. Produziam o seu vinho a sua carne, as suas batatas e feijões... Era vê-las todos os dias atrás dos seus burritos transportando legumes, frutas e hortaliças...depois chegaram os pequenos tratores com reboque que facilitou o transporte e a vida foi evoluindo....

Hoje, restam poucas dessas pessoas, mas mesmo essas já pouco se veem porque já não saem de casa ou estão em lares de terceira idade. A noticia de mais uma senhora que nos deixou é mais uma perda para a aldeia que a viu nascer..

Regresso do Mercado[1] - Cópia.jpg

 (imagem tirada da net)

 

 

Os Desafios da Abelha

Eu Sou Membro