Cais de mansinho, em gotas suaves, melodiosas, deslizas lentamente sobre o pano do guarda chuva e desfazes-te no piso alcatroado em que caminho. Unes-te a milhares de outras gotas e juntas formam uma corrente que segue em direcção ao ribeiro.
Indiferente à chuva que cai sobre as abas do seu chapéu, ela caminha embalada pelo seu som, e atenta aos veículos que passam. Salpicos vão molhando os sapatos, as calças, as mãos e o cabelo, mas isso não importa, ela gosta de caminhar à chuva, gosta do seu som, da sua melodia, gosta dos salpicos e de ver as pingas caírem em cima das outras pingas.
De repente um relâmpago, assusta-se um pouco, mas logo se recompõe e segue-se o trovão, as pingas estão a cair mais fortes até que se tornam numa chuva torrencial e ela ali com chapéu de chuva na mão... avista o canavial... corre a abrigar-se.... é um telheiro roto mas abriga um pouco. Permanece ali enquanto a chuva forte dura e pensa.... está a regar a hortinha, que bom, nada como água da chuva para as plantas, tudo fica mais vivo mais resplandecente e viçoso.
Em pouco tempo forma-se o lençol de água na estrada, os carros passam e levantam a água em saraivadas fortes e brutas.
Adoro a natureza no seu estado mais puro e selvagem. São imagens assim que nos fazem absorver ar puro, limpar a mente de coisas negativas e recarregar energias!
A Primavera tem este dom, de nos presentear com o que tem de melhor, este Abril tem sido um mês como há muitos anos não havia, chove quando é preciso chover na quantidade certa para limpar, purificar e regar. Até trovoada já tivemos e as temperaturas são normais para esta época! parece que a natureza está a agradecer à humanidade a redução de poluição a enviar para a atmosfera!
"Com o 25 de abril de 1974 abriram-se as portas para a conquista de um lugar digno na sociedade. A mulher portuguesa deixou de ser vista apenas como a filha, esposa ou mãe e passou a ser encarada também como cidadã. Pôs-se fim à discriminação."
Percorro a rua central daquele espaço cercado por um muro alto pintado de branco, dentro desse espaço existem muitos espaços pequenos de fora retangular cobertos por uma pedra de mármore branca, e em alguns casos de pedra preta de granito. Em qualquer dos casos estes espaços têm à cabeceira outra pedra com formatos diferentes. Páro num espaço que tem à cabeceira uma pedra recortada em forma de coração. Olho demoradamente a foto já amarelada pelo o tempo que está embutida no coração. Fecho os olhos e revejo uma vida.
A pequena brisa que sopra nos meus cabelos, são as mãos que carinhosamente os afagaram,
o sol que me aquece o corpo nesta manhã fria de Abril, é o corpo que me aqueceu nas noites frias de Inverno,
o sopro do vento que uma rajada deitou, é a voz que cautelosamente me sacudiu para a vida e,
os pingos de chuva que começam a cair são as lágrimas que correram pela minha face naquele dia de Abril.