Abril águas mil
Cais de mansinho, em gotas suaves, melodiosas, deslizas lentamente sobre o pano do guarda chuva e desfazes-te no piso alcatroado em que caminho. Unes-te a milhares de outras gotas e juntas formam uma corrente que segue em direcção ao ribeiro.
Indiferente à chuva que cai sobre as abas do seu chapéu, ela caminha embalada pelo seu som, e atenta aos veículos que passam. Salpicos vão molhando os sapatos, as calças, as mãos e o cabelo, mas isso não importa, ela gosta de caminhar à chuva, gosta do seu som, da sua melodia, gosta dos salpicos e de ver as pingas caírem em cima das outras pingas.
De repente um relâmpago, assusta-se um pouco, mas logo se recompõe e segue-se o trovão, as pingas estão a cair mais fortes até que se tornam numa chuva torrencial e ela ali com chapéu de chuva na mão... avista o canavial... corre a abrigar-se.... é um telheiro roto mas abriga um pouco. Permanece ali enquanto a chuva forte dura e pensa.... está a regar a hortinha, que bom, nada como água da chuva para as plantas, tudo fica mais vivo mais resplandecente e viçoso.
Em pouco tempo forma-se o lençol de água na estrada, os carros passam e levantam a água em saraivadas fortes e brutas.
"Em Abril águas mil"