Espanto
A piscina estava ali, as meninas treinavam dentro de água e ela, a Clotilde assistia ou esperava no carro. Saturada de fazer de taxista, começava a germinar dentro dela a ideia de: - por que raio não vou também para dentro da piscina!
Havia coisas que ela pensava que só se destinavam aos outros, esquecia-se porém de que fazia parte dessa fatia "os outros".
Clotilde era uma mulher jovem, mas tinha assumido o estatuto de velha naquele dia da reviravolta da sua vida. Nada mais a interessava. Só tinha um objectivo, e esse objectivo estava a nadar na piscina.
Também pensava que nunca conseguiria se manter à tona da água, não sabia nadar e tinha medo de meter a cabeça debaixo de água e por isso nunca conseguiria aprender a nadar mas estava ciosa de aprender.
Um dia incentivada por uma amiga resolveu inscrever-se, pelo menos não estaria a fazer de espectadora enquanto esperava pelas meninas.
Um dia após outro ia fazendo umas melhorias até que para seu espanto percebeu que conseguia manter-se à tona sem a ajuda da prancha e dar umas braçadas.
Quando consegue fazer 25 metros o seu ego subiu duzentos por cento e, partir daí aprendeu outras práticas de natação e percebeu que o estatuto de velha que tinha automaticamente assumido estava a impedi-la de viver. Afinal, era uma mulher nova e tinha tantas coisas para aprender e para viver. Percebeu que tinha simplesmente de se abrir para o mundo!
Texto escrito no âmbito de Os desafios da Abelha