A noite
Estou deitada, deixo cair as pálpebras sobre os olhos e vejo o escuro. Um escuro cheio de sombras, as mesmas sombras que povoaram as horas de luz que se apagaram com o cair da noite. Sim, vejo o escuro e escuto o silêncio da noite, nesse silêncio ouço sons. Não o som do vento ou da chuva, hoje tudo está muito tranquilo, ouço o som das paredes, talvez porque sei que elas estão ali a protger-me do frio e da maldade do mundo. Decoram as minhas paredes alguns quadros que não deixam esquecer momentos já vividos e eternizados pelas imagens recolhidas por uma qualquer máquina fotográfica. Ouço as vozes dos móveis que sussuram entre si palavras que não compreendo, ouço-os porque sei que estão ali, que fui eu que os escolhi para conforto do meu quarto e das minha coisas. Os meus ouvidos escutam sons que mais ninguém escuta, parecem sons vindos de um búzio quando o encostamos ao ouvido e temos a sensação de escutar o mar ao longe. A letargia destes sons é quebrado pelo ladrar tímido de um cão, que logo se cala, parecendo envergonhado por ter perturbado esta tranquilidade. Tudo volta ao normal e ouço a minha própria respiração. A minha respiração é tranquila, normal, sei que vou adormecer daqui a nada e vou sonhar sonhos que de manhã não me vou recordar. Este amanhã é o agora e não me lembro dos sonhos da noite!