A chávena favorita
Aquela chávena de porcelana branca, de dimensões generosas, paredes grossas para não deixar arrefecer facilmente as bebidas e boca larga, decorada com desenhos geométricos nas cores de laranja, cinza e amarelo, todos os dias saía do armário. Ambas nutriam uma cumplicidade misteriosa, ou para ser mais correta, ela é que nunca escolhia outra, chegava ao ponto de a lavar de propósito para voltar a utilizá-la, não a traía.
Um dia um acidente aconteceu, ao lavá-la no lava-loiça, a chávena escapou-se-lhe das mãos como que dizer "dá-me descanso", e foi parar no chão da cozinha, partindo-se em mil pedaços.
Ela ficou ali espectada a olhar para aquilo, agora a sua chávena preferida estava ali desfeita, por dentro um sentimento de frustração a invadiu, afinal era só uma chávena.
Agora, quando abria o armário, demorava-se a decidir qual a chávena que iria utilizar, nenhuma daquelas lhe enchia o olho, lá se decidia por uma que parecia satisfazer os seus desejos. No dia seguinte já escolhia outra e, enquanto tomava a bebida ia pensando "tenho que comprar outra chávena que satisfaça os meus caprichos.
Era só uma chávena é certo, mas era a sua chávena preferida e como tal nutriam aquela cumplicidade!
(imagem tirada da net)