Feira da Malveira em tempos de pandemia!
Coloco uma máscara azul bebé, igual a milhares das que se vêem por aí, pego no meu carrinho das compras que comprei em outros tempos nesta feira e dirijo-me ao recinto da feira. À entrada estão duas forças de segurança para garantir que se cumpram todas as regras de segurança no espaço. Os meus olhos fixam o paisagem que se abre à minha frente e, o que antes era uma área repleta de tendas, bancadas e gente, agora apresenta- com menos de um terço da sua capacidade. Apenas se vendem produtos alimentares e plantas.
Num curto espaço de tempo e em liberdade de movimentos percorro aquele espaço, procuro aquilo que preciso, passo por uma senhora que tem poucos produtos mas tem uns nabos bonitos que me chamam a atenção e pergunto o preço, um euro e setenta e cinco cêntimos um molho de sete nabos, não hesito, compro, no supermercado custa sessenta cêntimos cada unidade. Noutra bancada compro uns enchidos e noutra os legumes que me fizeram ir à feira, grelos, nabiças, brócolos, couve, alho francês, alface, cebolas, coentros, laranjas e cenouras, o meu carrinho ficou cheio. Um dos motivos que me levam à feira é comprar cenouras com rama, não havia cenouras com rama, disse o feirante que o frio e o gelo queimou tudo. Trouxe cenouras sem rama!
Estabeleço conversa com os proprietários desta bancada, de um modo desolado desabafam que quase não vale a pena ir à feira, os clientes são muito poucos, dizem que esta é uma feira de gente de mais idade e esses deixaram de lá ir.
Um sentimento de tristeza e desolação emerge dos olhares de quem vende, mas também de quem compra. Para muitos a feira também servia de motivo para simplesmente dar um passeio, isso agora não é possível, compra-se o que se tem de comprar e vai-se embora, as caras das pessoas nem as vemos, dois dedos de conversa com alguém conhecido não se dá, até porque não encontramos lá essas pessoas.
Gosto de comprar produtos frescos nesta feira, gosto de percorrer as bancadas e escolher a que tem quase todos os produtos que preciso para aí comprar, além de ser mais barato que nos supermercados, circulo em espaço aberto com o devido distanciamento e sinto segurança. Além disso, ainda ajudo estas pessoas nesta fase tão complicada de todas as vidas, que fazem disto o seu modo de vida e por conseguinte o seu ganha-pão.
Em cada bancada vejo um silêncio entorpecido, onde antes reinava a confusão e o barulho, vejo rostos pensativos e olhos vagos, vejo a espera do cliente que não vem, vejo a mercadoria em cima da bancada por despachar, vejo em cada rosto incerteza e uma resignação disfarçada....
Levanto os olhos na mesma direcção de outros olhares e observo nuvens muito negras, vem aí uma chuvada valente dizem algumas vozes, os poucos clientes que ainda circulam no espaço da feira apressam-se a dirigir-se à saída, querem chegar aos carros antes da chuva, eu faço o mesmo, as compras estão feitas. É hora de regressar a casa, ao confinamento das minhas paredes, ao conforto da minha casa e ao desabafo das letras.
No regresso pouco transito encontrei, poucas pessoas circulam nas ruas, sente-se uma nostalgia e uma solidão solidária no ar, um compasso de espera...!
(Imagem tirada da net)
Esta a habitual Feira da Malveira em tempos anteriores à pandemia