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Abrigo das letras

Um blogue para interagir com as pessoas partilhando imagens, ideias e pensamentos!!

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Caminhos da serra

Maria, 22.02.22

É um dia de Inverno, mas o céu está azul e o sol brilha em todo o seu explendor, a temperatura está amena, um dia delicioso para enveredar por aqueles caminhos no meio da serra.

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Todos os caminhos estão ladeados pela cor da alegria, o amarelo lindo e suave das mimosas que desabrocham, embelezam e perfumam os trilhos da serra. A Primavera antecipada.

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Por cima de nós três águias esvoaçam e cantam livremente alheias aos problemas sérios que este estado de tempo atípico que se debruça sobre nós. Nesta altura do ano, em estado normal,  a erva estaria alta e molhada, o piso estaria lamacento e escorregadio, andaríamos a chafurdar na lama, a saltar poças de água e atravessar ribeiros, nada disto acontece e  nos confunde.... estamos no inverno ou no verão???

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Procuramos as sombras das frondosas árvores que se erguem altas e imponentes, as suas raízes bem fundas distendem-se à procura de humidade, muitas estão despidas de folhagem.

20220220_132638.jpgUma extensão de arbustos completamente floridos se estende ao nosso lado esquerdo criando uma visão extraordinária! 

A tradição a cumprir-se

Maria, 01.11.21

Já se ouve ao longe a alegria das crianças, hoje é o dia delas, em grupos de dez ou de duas ou três, aí andam elas alegres a percorrer as ruas da aldeia com os seus sacos coloridos e muitos sorrisos no rosto. Ouve-se em uníssono "há pão por Deus". Quase  revejo nestas crianças a menina que eu fui, quando alegre fazia os mesmos caminhos com a mesma alegria que eles (é tão bom ser criança). A chuva deu lugar a lindo dia, apenas com algumas nuvens, o S. Pedro a lembrar-se de que esta é uma festa das crianças e de que eles adoram este dia!

Também eu amo este dia, de propósito fico em casa para apaparicar estes meninos e meninas com rebuçados, gomas ou caramelos que vou deixando cair nos seus sacos de panos coloridos. Obrigada, obrigado, obrigada.... vou ouvindo de cada um à medida que as guloseimas vão caindo .... depois seguem quase cantando pele rua "há pão por Deus"!

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E mais uma vez fiz a experiência de amassar uma broas, que ficaram deliciosas!

Tenho que telefonar a alguém

Maria, 19.02.21

A seguir às notícias do jornal da noite, mudava de canal para a net flix, procurava um filme, de preferência histórico e longa duração para estar absorvida até à hora de dormir. Um som vindo do telefone avisa que alguém está a tentar entrar em linha, coloca o filme em modo de pausa e olha o mostrador, vê o nome, a primeira impressão que tem é - não me apetece falar com ele, estou a meio de um filme, mas logo a seguir muda de pensamento - é melhor atender - pode estar a precisar de falar com alguém, sabe que ele está sozinho.... atende.

Antes da situação pandemica que atravessamos, ele saía todos os fim de semana para se divertir os com amigos e amigas, o seu trabalho é duro e necessita daquele escape para bem da sua saúde mental. Agora, isso não é possível e fica por casa, não tem onde ir, vive sozinho dentro daquela casa enorme, composta por grandes divisões vazias e frias, vazias de tudo, os poucos móveis que a compõem parecem canoas num oceano, as janelas são despidas e o chão já viu tapetes e carpetes... pode não estar a ser fácil suportar a falta de convívio, a solidão que se estende!

Viver só tem o seu lado bom e o seu lado menos bom também. O nosso estado de espírito muito contribui para sentir as diferenças, as vantagens e desvantagens. Viver só nem sempre é uma opção, quase nunca é uma opção, as várias circunstãncias da vida empurram uns e outros das mais diversas formas para um viver só dentro de uma casa. Há pessoas que lidam muito bem com isso mas outras não

Atende:

- do outro lado: olá, está tudo bem contigo?

- sim, está tudo bem comigo e com a família graças a Deus, e tu, estás bem?

Assim começou a conversa: sabes, estava mesmo a precisar de falar com alguém e escolhi-te porque sei que me sabes ouvir, me sabes escutar, estava a ficar deprimido aqui em casa sozinho....e gosto de conversar contigo.... . Ali ficamos a conversar e a rir de tudo e nada durante um pedaço de tempo... criamos um momento de descontracção que acabou por ser bom para os dois. O filme continuava em espera.

O filme pode esperar, amanhã ele continua lá, enquanto que, para esta pessoa o facto de ter tido alguém para conversar tenha sido a coisa que mais luz tenha dado ao seu dia!

A pandemia, o confinamento, a solidão são uma factura muito alta que todos estamos a pagar!

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O chão e as máscaras

Maria, 13.02.21

Inicio a minha caminhada a partir de casa e vou caminhar sozinha até onde os passos me levarem. Visto uma roupa confortável, calços os meus sapatos de caminhar à prova de água e na cabeça ponho uma fita de malha. O telemóvel e os fones vão me acompanhar para ouvir música, escolho uma série de músicas portuguesas e ouço, Marisa, Camané, Carminho, Carlos do Carmo e outros que também gosto. Na mão levo uma pequena garrafa de água.

O dia estava claro, liberto das nuvens negras, do nevoeiro e das chuvas dos últimos dias. Não dá para ficar dentro casa hoje, pensa, tenho que sair. O sol já desponta e aquece. Mesmo em confinamento saio de casa, vou caminhar para sítios onde poucas pessoas andam.

É certo que tenho que atravessar a aldeia, mas até mesmo na aldeia quase não cruzo com ninguém, no entanto, como caminho sozinha estou mais atenta ao que surge à minha frente e, mesmo não encontrando gente nas ruas, a aldeia ferve de vida com as pessoas do lado de fora das casas dentro dos seus quintais entretidas com afazeres ou simplesmente a apanhar sol, um pouco de vitamina D é bem vinda, as roupas a secar ao sol dão vida e cor aos estendais, as janelas abertas de par em par renovam o ar das casas e alguns homens preparam terreno para plantar as plantas que lhe darão produtos frescos nas suas pequenas hortas no inicio da Primavera. Passo por uma senhora que está a despejar o lixo, reparo no seu cabelo branco e o sol que incide sobre o mesmo empresta-lhe uma luminosidade e reflexos extraordinários nos fios. Achei aquele cabelo lindo.

Quando deixo a aldeia para trás, entro numa zona de pinheiros onde o caminho é de terra, mas tem pouca lama, avisto uma coisa azul claro pendurada num galho de um carrasco, ao aproximar-me vejo que é uma máscara.

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Durante as minhas caminhadas encontro com frequência máscaras caídas nas bermas dos caminhos ou das estradas, não entendo o porquê ou o que é que custa colocá-las no sitio certo. Existem tantos contentores espalhados por todo o lado, e uma máscara é uma coisa tão pequena, porquê deitá-la no chão. Muitas vão parar ao mar levadas pelo vento e pela água das chuvas. É extremamente desagradável o cenário que se nos depara com as máscaras caídas aqui e ali. Uma falta de respeito para com o próximo e para o ambiente.

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Gosto de rios, ribeiros, ribeiras e quedas de água, devido às chuvas constantes que têem caído, encontro com alguma regularidade estas águas correntes. A água tem um poder calmante sobre mim!

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No fim de uma hora e meia de caminhada, chego a casa. Foram 8 Kms!

O meu olhar sobre:#1#Feira da Malveira

Maria, 05.02.21

Feira da Malveira em tempos de pandemia!

Coloco uma máscara azul bebé, igual a milhares das que se vêem por aí, pego no meu carrinho das compras que comprei em outros tempos nesta feira e dirijo-me ao recinto da feira. À entrada estão duas forças de segurança para garantir que se cumpram todas as regras de segurança no espaço. Os meus olhos fixam o paisagem que se abre à minha frente e, o que antes era uma área repleta de tendas, bancadas e gente, agora apresenta- com menos de um terço da sua capacidade. Apenas se vendem produtos alimentares e plantas. 

Num curto espaço de tempo e em liberdade de movimentos percorro aquele espaço, procuro aquilo que preciso, passo por uma senhora que tem poucos produtos mas tem uns nabos bonitos que me chamam a atenção e pergunto o preço, um euro e setenta e cinco cêntimos um molho de sete nabos, não hesito, compro, no supermercado custa sessenta cêntimos cada unidade. Noutra bancada compro uns enchidos e noutra os legumes que me fizeram ir à feira, grelos, nabiças, brócolos, couve, alho francês, alface, cebolas, coentros, laranjas e cenouras, o meu carrinho ficou cheio. Um dos motivos que me levam à feira é comprar cenouras com rama, não havia cenouras com rama, disse o feirante que o frio e o gelo queimou tudo. Trouxe cenouras sem rama! 

Estabeleço conversa com os proprietários desta bancada, de um modo desolado desabafam que quase não vale a pena ir à feira, os clientes são muito poucos, dizem que esta é uma feira de gente de mais idade e esses deixaram de lá ir.

Um sentimento de tristeza e desolação emerge dos olhares de quem vende, mas também de quem compra. Para muitos a feira também servia de motivo para simplesmente dar um passeio, isso agora não é possível, compra-se o que se tem de comprar e vai-se embora, as caras das pessoas nem as vemos, dois dedos de conversa com alguém conhecido não se dá, até porque não encontramos lá essas pessoas.  

Gosto de comprar produtos frescos nesta feira, gosto de percorrer as bancadas e escolher a que tem quase todos os produtos que preciso para aí  comprar, além de ser mais barato que nos supermercados, circulo em espaço aberto com o devido distanciamento e sinto segurança. Além disso, ainda ajudo estas pessoas nesta fase tão complicada de todas as vidas, que fazem disto o seu modo de vida e por conseguinte o seu ganha-pão.

Em cada bancada vejo um silêncio entorpecido, onde antes reinava a confusão e o barulho, vejo rostos pensativos e olhos vagos, vejo a espera do cliente que não vem, vejo a mercadoria em cima da bancada por despachar, vejo em cada rosto incerteza e uma resignação disfarçada....

Levanto os olhos na mesma direcção de outros olhares e observo nuvens muito negras, vem aí uma chuvada valente dizem algumas vozes, os poucos clientes que ainda circulam no espaço da feira apressam-se a dirigir-se à saída, querem chegar aos carros antes da chuva, eu faço o mesmo, as compras estão feitas. É hora de regressar a casa, ao confinamento das minhas paredes, ao conforto da minha casa e ao desabafo das letras.

No regresso pouco transito encontrei, poucas pessoas circulam nas ruas, sente-se uma nostalgia e uma solidão solidária no ar, um compasso de espera...! 

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(Imagem tirada da net)

Esta  a habitual Feira da Malveira em tempos anteriores à pandemia

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