Habitualmente a senhora Matilde sentava-se naquela cadeira já gasta pelo tempo onde colocava a almofada preferida também ela muito coçada pelo uso, a senhora Matilde gostava de se sentar ali e desfrutar do calor que o sol lhe proporcionava àquela hora do dia. Uma jovem abeira-se dela e carinhosamente conversa com ela como tantas vezes já o havia feito, a jovem gostava de ouvir as histórias de outros tempos que que a senhora se ia lembrando e contando. Porém, naquele dia era um dia especial, era o último dia do ano, e a jovem lembrou-se de perguntar à tia Matilde, dirigindo-se a ela desta forma: - Tia Matilde, como sabe, hoje é o último dia do ano, se a senhora não levar a mal, gostava de lhe perguntar que desejos a senhora gostaria de obter para o ano que se vai iniciar?
Uma pausa feita de silêncio que a tia Matilde gerou, foi o momento em que precisou para pensar na resposta que a coriusidade da jovem alimentava, e assim lhe respondeu: - Minha querida, vou revelar-te o que anseias saber, mas desde já te digo que os meus desejos de hoje são os mesmos que me acompanham há muitos anos, toda a minha vida tenho ouvido falar de guerras, ainda era muito jovem e já ouvia falar da segunda guerra mundial, depois no Vietname, Kosovo, tantas outras, actualmente a situação da Síria e o terrorismo, por isso os meus desejos são sempre dirigidos, ano após ano para os mesmos objetivos:
- Que os países que estão em guerra e que tanto sofrimento causam nas pessoas, possam chegar a bom entendimento e alcancem a paz.
- Que as pessoas em geral consigam ver um pouco mais além que o seu umbigo e descubram o vizinho que sofre. - Que cada um consiga discernir entre o verdadeiro e o falso de forma a não tomar tudo pela mesma moeda. - Que o novo ano traga novas ideias e novas energias ao mundo e a todas as pessoas em geral de forma a vivermos num mundo melhor!
Desejo também Paz, Saúde, Amor e Alegria para todos os homens e que cada um consiga ser em cada dia um pouco melhor que no dia anterior!
A jovem em silêncio ouviu a tia Matilde que assim falava e ousou argumentar: - Mas tia Matilde, e para si, apenas para si não deseja nada em especial? - Minha querida sobrinha que mais posso desejar para mim que não esteja englobado no que desejo para os outros?
Quando era uma garota, na casa dos meus pais não era habitual a distribuição de prendas, nem no natal nem nos aniversários, a minha mãe preparava uma refeição diferente e melhorada e fazia uma sobremesa doce, isto era o suficiente para celebrar as datas. Hoje, preparam-se uma quantidade exagerada de pratos e sobremesas nas quais por vezes ninguém toca, dão-se prendas que as pessoas são obrigadas a ir trocá-las nos dias seguintes porque ou não servem, não gostam, ou não fazem o seu género.
Com o passar do tempo, a compra de prendas tornou-se para mim algo de preocupação porque já não sei o que comprar, o que oferecer mesmo aos mais pequenos. Numa época em que as pessoas já têm tudo e que compram em qualquer altura aquilo que precisam ou gostam de ter, o fator surpresa de uma prenda deixou de ter aquela magia que se sentia quando não havia tanta facilidade de adquirir os produtos como agora.
Continuo a dar prendas no natal e nos aniversários, mas as pessoas mais chegadas a quem são destinadas escolhem a prenda antes de eu a comprar, para não correr o risco de não se gostar ou de não servir, não existe o fator surpresa mas que importa, o importante é a intenção e o carinho que se põe em cada gesto dirigido às pessoas!
As pinhas secas e os troncos ardem na lareira, formam uma chama incandescente que emana um calor e dá conforto à sala nestes dias e noites frias de dezembro. Sente-se bem e está tranquila. A campainha da porta toca, quem será? pensa para si mesma. Espreita pelo óculo da porta, não reconhece o visitante, fecha o óculo, fica quieta, calada e espera.... Passados alguns momentos ouve os passos descer as escadas, trémula, respira... Quem seria aquele visitante áquela hora da noite.....
Havia muitos anos que vivia sozinha, habituara-se a viver assim e achava que nada faltava na sua vida, o homem que a levara ao altar partira cedo demais, mas deixara-lhe o bem mais precioso da sua vida, as filhas, agora mulheres que já adquiriram a sua independência. Havia, porém, alguns momentos nostálgicos em que sentia mesmo a falta de alguém, do abraço forte de um homem e de um mimo. Nesses momentos levantava a cabeça e dizia em voz alta para as paredes de sua casa "esta casa não precisa de mais ninguém e eu também não preciso", afastava esses pensamentos como quem afasta uma coisa ruim que está ali a mais, que está ali a atravessar-se no seu caminho e nas suas escolhas. Os dias eram todos iguais, deitava-se à noite a dar graças a Deus por mais um dia, levantava-se de manhã a pedir a Deus saúde e força para aquele dia. Logo pela manhâ gostava de abrir as portadas e estender o olhar até para lá daquelas terras e alcançar o mar, gostava de ver os pássaros que redopiavam em redor da sua janela, gostava de ver e sentir como estava o tempo, depois, estendia um pano sobre a mesa e sobre este colocava o seu pequeno almoço de sumo de frutas e torradas que, calmamente tomava observando a rua pela janela. Ligava o telemóvel e ficava a par das primeiras notícias no facebook e no email, agora com estas modernices que ia aprendendo com facilidade, parecia que o mundo estava todo ali à mão à distãncia de um pequeno aparelho que vai para todo o lado. Os anos passavam rápidos e monótonos, muito depressa chegava o NATAL e com ele a preocupação das prendas, o que dar? hoje já não se consegue surpreender ninguém com as prendas, há de tudo em todo o lado, até as podemos comprar sem sair de casa, as transportadoras e o correio trás tudo á porta de casa.
Os anos passavam rápidos sim, e a juventude já se fora... um dia andava entretida às compras quando uma mão suavemente pousou no seu ombro, a fez levantar a cabeça e encarar os olhos que a fitavam, os mesmos olhos que já a fitara outras vezes ocultos à sua vista. Desta vez os seus olhares se cruzaram um pouco mais e ambos perceberam que precisavam de palavras, que a casa ficaria mais cheia com presença de mais alguém e que o ABRAÇO forte chegara. Era a melhor prenda de natal!
Sou o menino mais novo da sala, ainda necessito de ajuda para ir á casa de banho e ao refeitório, mas faço tudo sozinho, a sanita, o lavatório e o cabide para pendurar o casaco são todos à minha medida, dispenso a ajuda dos adultos para muitas tarefas, aliás, eu sei que sou um menino pequeno mas também sei que sei fazer as coisas como os adultos por isso, quando a minha avó me vai buscar à escola e a porta da sala se abre, a educadora chama o meu nome, saio disparado por aquela porta direitinho à minha avó, que ela até fica zonsa com a minha energia, ponho-me a imitar a voz de alguns animais e ela fica admirada a olhar para mim. Dou-lhe um grande beijinho, ela fica toda derretida e pergunta - quem é o menino mais lindo da avó? logo respondo todo babado, o meu nome. Depois, obriga-me a ir à casa de banho mesmo que eu não tenha vontade de fazer nada, ela sabe que ainda me descuido, que às vezes molho as calças e não quer de jeito nenhum que eu molhe o banquinho do carro dela onde me sento. Eu sei isso e lá vou lhe fazer a vontade. Vocês podem não acreditar mas eu sou um menino bem comportado, embora tenha cá o meu feitio por vezes um bocadinho dificil, mas então, vou ser um homem e um homem tem que ter a sua personalidade.
Quando chego à casa da minha avó, nem a deixo fechar o carro, peço-lhe logo o comando e eu mesmo fecho o carro, depois dou-lhe o comando, uma vez meti o comando no bolso do meu casaco e foi um problema para o encontrar assim, agora dou-lho logo para que não volte a acontecer desagrados desses. A seguir fecho sozinho o portão da entrada, a minha avó fica pasmada com as coisas que faço, é que eu ainda não tenho 3 anos.
Já em casa e é hora de lanchar, não preciso que me digam nada, vou direitinho à gaveta dos panos, tiro de lá um e estendo na mesa, digo à minha avó que não quero leite com chocolate, mas sim um yogurte, vou buscar a colher e como o yogurte num ápice, entretanto já tirei uma banana da fruteira e a estendo à minha avó para que ela corte só a pontinha porque eu é que a descasco, ela trás-me uma fatia de pão com manteiga e nem preciso que ela me diga para comer. Rápidamente acabo o meu lanche e sei que a seguir é hora de dormir uma pequena sesta na cama dela, quero que ela se deite comigo, gosto de segurar a sua mão enquanto adormeço, sei que depois ela larga a minha mão e vai embora porque quando acordo ela não está mais lá. Adoro a minha avó e sei que ela também me adora, sem vaidades sei que sou o menino lindo dela!