Porque teria Mariana assumido aquele comportamento tão descontrolado? Dizia coisas despropositadas para tarefa que estava a executar, ia ofendendo a colega com palavras e atitudes sem nenhuma razão de ser, ia-a ofendendo profundamente.
Sónia nem estava a acreditar naquilo que estava a presenciar e do qual estava a ser alvo, Mariana parecia um furacão enfurecido que quer arrastar tudo o que lhe aparece pela frente, estava a magoá-la muito com aquela forma ofensiva, brusca nas atitudes e desdenhosa nas palavras. Preferiu calar-se para não acender ainda mais a ira que lia naqueles olhos verdes que transfiguravam o rosto desgastado que se encontrava na sua frente. Ainda tentou tranquiliza-la com algumas palavras, ainda tentou compreender porque estava a colega a agir daquela maneira. Tudo em vão, cada vez a ira subia mais de tom naquele rosto encrespado. Calou-se. Era a melhor atitude a tomar naquele momento. Nada do que dissesse serviria de alguma coisa, por outro lado, qualquer palavra que proferisse, era apenas mais uma acha na fogueira incendiada, por isso se calou.
Naquele dia e nos dias seguintes, Sónia não mais falou nem olhou de frente a sua colega de trabalho, não a conseguia encarar, não tinha nada para lhe dizer nem queria ter, tinha sido muito maltratada injustamente. O ambiente de trabalho tornou-se constrangedor.
Um dia Sónia e Mariana cruzaram acidentalmente numa grande superfície comercial, ficaram de cara a cara, com a surpresa estampada nos rostos, Mariana foi a primeira a quebrar o espanto, começou a falar como se não tivesse acontecido nada, beijou-a e pediu-lhe desculpa, Sónia estava surpreendida e perplexa com esta reação, não estava disposta a desculpar, não queria reatar nada, ficou sem saber o que dizer, porém, algumas palavras iam saindo da sua boca como que para quebrar o gelo. No entanto, com a insistência de pedido de desculpas, acabou por dizer forçadamente "estás desculpada", a sua boca deixou sair estas palavras mas o seu coração machucado não as disse. Sónia era pessoa de reservas, não desculpava facilmente certas ofensas. Embora tenha proferido a palavra desculpa, não desculpou e continuou a não encarar a colega nem a dirigir palavra. Sónia iria amadurecer este incidente nos dias que se seguiriam. Dizem que o tempo cura tudo, será?
Ou será que o tempo ajuda a refletir nos sentimentos e dar espaço para que a questão que parecia ter contornos tão drásticos, afinal não tinha a dimensão inicial. O coração de Sónia andava inquieto! Queria dar mais uma oportunidade a Mariana mesmo sabendo que ela voltaria a agir da mesma maneira assim que surgisse outro descontrolo. Ainda assim, Sónia ia amolecendo no seu comportamento.
Hoje, Sónia vai desculpando lentamente, a quadra festiva que apela à reconciliação e ao perdão vai aquietando o seu coração.
Por vezes, Sónia pensa que tem um coração de pedra? Outras vezes descobre que afinal o seu coração é de manteiga.
(texto de ficção) por Maria Flor
(Imagem tirada da net)