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Abrigo das letras

Abrigo das letras

Enfrentando a crise

Sara (nome ficticio) deixa o carro num qualquer estacionamento e dirige-se ao primeiro local que tinha planeado para se deslocar nesse dia, depressa resolve o assunto pois a fila de espera era quase nula, resta salientar que em outros tempos, esta fila era interminável. O outro local onde tinha assunto para tratar deixou-a pasmada, era uma clinica que dantes estava sempre cheia de gente à espera pela sua vez e, onde as consultas ou exames eram marcados para uma determinada hora e só aconteciam uma hora ou mais depois, pensou; "será isto efeito da crise ou trata-se de uma situação pontual? "não havia ninguém há excepção das funcionárias que assistiam de pé ao programa que passava na televisão, atreveu-se a comentar: "há greve na saúde!" ao que elas responderam: "ainda não se apercebeu que há greve e bastante grave, as pessoas que antes iam ao médico por uma dorzinha insignificante num dedo, agora só vão quando o dedo estiver a cair, para já não falar nos exames que os médicos se recusam a passar". Tratou do assunto que a levara ali rápidamente e, passou ao local seguinte, deslocando-se sempre a pé, já levara calçado apropriado para isso, não fosse aquela unha meio encravada começar a reclamar, o tempo era mais que suficiente, em outros tempos ia sempre de carro para todo o lado, mesmo curtas distâncias, parecia que não havia tempo suficiente num dia para se fazer tudo o que era planeado para aquele dia. Enquanto se deslocava a pé ia distribuindo "Bons dias" a toda a gente que com ela se cruzava, a bem dizer não eram muitos, pelo caminho fica a saber que fulano tal morreu, já contava quase noventa anos, disseram-lhe, "onde estão as pessoas" interrogava-se enquanto caminhava mas, era óbvio que as pessoas estavam em casa, pois estão desmpregadas e não têm dinheiro para ir para a rua ou outro sitio qualquer gastar, observava os estabelecimentos comerciais e deparava com os seus proprietários ou empregados à porta destes a fumar ou a falar uns com os outros ou ao telemóvel. Na vinda para casa, agora de carro, faz o possível para respeitar os sinais de trânsito, não vá aparecer alguma multa em casa para pagar, (não se pode dar a esse luxo) e conduz devagar para gastar menos combustível. A crise obriga a estes comportamentos, afinal nem tudo o que a crise tráz é mau, conduzir mais devagar, não falar ao telemóvel enquanto conduz é um comportamento que evita muitos acidentes e, todos sabemos como estão os cortes na saúde e como as taxas moderadoras e a compra de medicamentos pesam na carteira de todos. Passou por casa da mãe para lhe dar um beijinho de parabéns e uma pequena lembrança (está sempre a dizer que não precisa de nada) ela conta hoje oitenta e seis anos, bonita idade. Mesmo aqui deu por si  pensar: "gostaria de chegar a esta idade e estar tão bem como ela", a vista é que é o pior diz a mãe, no entanto faz renda com rapidez, talvez seja mais pelo tato do que pela vista, gosta muito de conversar e ninguém na aldeia conta histórias como ela, algumas que conhece desde sempre e que nunca as esqueceu, outras, lê na revistinha "dica" e decora-as para depois as contar na primeira oportunidade.