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Abrigo das letras

Abrigo das letras

Inverno

Por detrás da vidraça, vai tecendo malha atrás de malha como se de um rosário se tratasse, com o objetivo de confecionar um xaile para se aquecer neste tempo de inverno. Lá fora formou-se um denso nevoeiro e não deixa a vista alcançar mais do que o espaço até á cerca, a chuva não para de cair, o frio não desaparece. Na lareira da sala crepitam as chamas que transmitem uma reconfortante sensação de calor e bem estar. A noite está a cair, muito cedo é verdade, mas vai ser assim ainda durante o resto do Janeiro e também Fevereiro. Lá diz o ditado " janeiro fora conta uma hora, se bem contar hora e meia há-de achar". O inverno é por si só uma estação desconfortante, longa e fria, conforta-nos a idéia de vestir camisolas quentes e de toque macio, bonitos casacos e boas botas, sentarmo-nos em frente a uma lareira e deitarmo-nos numa cama quente  e dar graças a Deus por tudo isto, ter. Não podemos, porém, de deixar de pensar em quem nada tem, nem um teto sequer. Se todos fizermos um pouco que seja para tornar a vida destas pessoas menos agreste, o pouco de muitos será uma imensa generosidade.

Alerta vermelho

Um forte temporal alastra por todo o país. As janelas que não estão devidamente calafetadas, deixam entrar pelas frinchas um vento frio. O vento, a chuva e o frio que se faz sentir do lado de fora das janelas não convida a colocar os pés na rua. A fúria do vento é tanta que com a sua força descontrolada corta os troncos e as folhas das árvores e outras, arranca pela raíz. A sua voz inconfundível faz-se ouvir, não num murmúrio inaldível, mas sim num brusco e ensurdecedor som que faz arrepiar os ouvidos. Atravez das noticias ouve-se os relatos das várias ocorrências que se vão verificando ao longo do dia, por todo o país. Os bombeiros não têm descanso no socorro a tantas solicitações. As adversidades do tempo são comparáveis às adversidades da vida de cada um - se há alturas da vida em que tudo corre bem o que, confere à pessoa  a ilusão de que será sempre assim - de um momento para o outro tudo se pode desmoronar e a vida ter que assumir outro rumo. Pode -se prever que o tempo poderá entrar em alerta vermelho dentro de algumas horas, pode-se tomar algumas providências para diminuir estragos. As adversidades nas condições meteorológicas possuem um carisma próprio que cativam a nossa atenção seja pela sua condição ou pela sua beleza. Um mar revolto assumido da sua força levanta vagas tão altas que se desvanecem em lençóis de espuma branca sobre a praia e fazem deslumbrar um olhar apreciador da sua beleza. Uma trovoada que de repente ilumina a terra com os seus raios serpenteando aos siguezagues no vazio, é algo digno de se ver, não obstante o pânico que transmite.

Um desejo consumista para 2013

Viajar até à Austrália e estar lá uns seis meses no mínimo. Embora me apavore o tempo de voo e a diferença de horário, embarcaria nesta jornada de boa vontade, se os meios económicos o permitissem. Iria no nosso periodo de Inverno porque é o Verão deles, e assim usufruiria de um ano inteiro de Primavera e Verão. Iria de férias é claro e teria fundo monetário para passear e conhecer muito da Austrália, conhecer as suas gentes, a forma como vivem e a sua cultura. É na verdade um desejo consumista e um tanto dispendioso para os tempos que correm, mas não para todos, porque a situação actual torna os ricos ainda mais ricos e os remediados e os pobres cada vez mais pobres. O consumo desgovernado que se verificou até um passado muito recente, tende agora a ser mais cauteloso por variadas razões, a começar pela falta de dinheiro, pela sensibilazação das pessoas para pouparem para a eventualidade de alguma situação inesperada menos boa como seja o desemprego, uma doença, ou para a reforma que, como todos sabemos a segurança social está a "rebentar pelas costuras" com tantas reformas, tanto subsidio de desemprego, tanto subsidio social para pagar, e tão pouca gente a trabalhar para pagar impostos. Portanto, viajar até à Austrália neste momento é uma viajem  a pôr de parte.

Enfrentando a crise

Sara (nome ficticio) deixa o carro num qualquer estacionamento e dirige-se ao primeiro local que tinha planeado para se deslocar nesse dia, depressa resolve o assunto pois a fila de espera era quase nula, resta salientar que em outros tempos, esta fila era interminável. O outro local onde tinha assunto para tratar deixou-a pasmada, era uma clinica que dantes estava sempre cheia de gente à espera pela sua vez e, onde as consultas ou exames eram marcados para uma determinada hora e só aconteciam uma hora ou mais depois, pensou; "será isto efeito da crise ou trata-se de uma situação pontual? "não havia ninguém há excepção das funcionárias que assistiam de pé ao programa que passava na televisão, atreveu-se a comentar: "há greve na saúde!" ao que elas responderam: "ainda não se apercebeu que há greve e bastante grave, as pessoas que antes iam ao médico por uma dorzinha insignificante num dedo, agora só vão quando o dedo estiver a cair, para já não falar nos exames que os médicos se recusam a passar". Tratou do assunto que a levara ali rápidamente e, passou ao local seguinte, deslocando-se sempre a pé, já levara calçado apropriado para isso, não fosse aquela unha meio encravada começar a reclamar, o tempo era mais que suficiente, em outros tempos ia sempre de carro para todo o lado, mesmo curtas distâncias, parecia que não havia tempo suficiente num dia para se fazer tudo o que era planeado para aquele dia. Enquanto se deslocava a pé ia distribuindo "Bons dias" a toda a gente que com ela se cruzava, a bem dizer não eram muitos, pelo caminho fica a saber que fulano tal morreu, já contava quase noventa anos, disseram-lhe, "onde estão as pessoas" interrogava-se enquanto caminhava mas, era óbvio que as pessoas estavam em casa, pois estão desmpregadas e não têm dinheiro para ir para a rua ou outro sitio qualquer gastar, observava os estabelecimentos comerciais e deparava com os seus proprietários ou empregados à porta destes a fumar ou a falar uns com os outros ou ao telemóvel. Na vinda para casa, agora de carro, faz o possível para respeitar os sinais de trânsito, não vá aparecer alguma multa em casa para pagar, (não se pode dar a esse luxo) e conduz devagar para gastar menos combustível. A crise obriga a estes comportamentos, afinal nem tudo o que a crise tráz é mau, conduzir mais devagar, não falar ao telemóvel enquanto conduz é um comportamento que evita muitos acidentes e, todos sabemos como estão os cortes na saúde e como as taxas moderadoras e a compra de medicamentos pesam na carteira de todos. Passou por casa da mãe para lhe dar um beijinho de parabéns e uma pequena lembrança (está sempre a dizer que não precisa de nada) ela conta hoje oitenta e seis anos, bonita idade. Mesmo aqui deu por si  pensar: "gostaria de chegar a esta idade e estar tão bem como ela", a vista é que é o pior diz a mãe, no entanto faz renda com rapidez, talvez seja mais pelo tato do que pela vista, gosta muito de conversar e ninguém na aldeia conta histórias como ela, algumas que conhece desde sempre e que nunca as esqueceu, outras, lê na revistinha "dica" e decora-as para depois as contar na primeira oportunidade.

Se eu pudesse ser uma ave!

Enquanto esperava para adormecer, ocorreu-me a idéia de que se eu pudesse ser uma ave, que ave escolheria eu para ser? Uma pomba! eu escolheria ser uma pomba porque ela é uma ave feminina, graciosa, elegante e sobretudo está associada ao simbolo da paz. A sua origem data desde a história de Noé e da sua Arca. Um desses episódios é narrado primeiro livro do Velho Testamento. Noé, que esperava na Arca o fim do dilúvio, mandou um animal mensageiro para ver se as águas haviam baixado. O primeiro escolhido foi o corvo, que ficou voando para lá e para cá e perdeu a oportunidade de ganhar a simpatia da humanidade. Então Noé enviou uma pomba, na primeira viagem, ela não encontrou nenhum lugar para pousar. Sete dias depois, foi novamente solta e retornou com um ramo de oliveira no bico. Isso, de acordo com a narrativa bíblica, simbolizava a PAZ entre DEUS e os homens ”Além disso, o ramo de oliveira significava também garantia de alimentos de remédios e da benção divina.” Assim que Jesus foi batizado, o espírito de Deus desceu sobre ele sobre em forma de uma pomba. Desde então, a pomba é associada ao Espírito Santo. Eu seria uma pomba branca e tu? que ave serias?

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